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Este é o blog do Projeto de Orientação Vocacional Profissional da Universidade de Brasília (UnB). Nosso objetivo é levar a Orientação Vocacional Profissional aos mais diversos setores da sociedade, atuando desde a Educação Infantil à Educação de Jovens e Adultos, com o intuito de esclarecer e orientar as pessoas à escolha profissional consciente.

A OVP no Brasil

Para compreender a situação da Orientação Profissional na atualidade brasileira é necessário fazer um breve resgate de sua história e desenvolvimento. Descrever esse desenvolvimento requer uma breve recapitulação histórica no âmbito internacional.

A Orientação Profissional nasceu na Europa no inicio século XX, mais precisamente com a Criação do Centro de Orientação Profissional de Munique, no ano de 1902 (Carvalho, 1995). Os objetivos desta orientação estavam diretamente ligados ao aumento da eficiência industrial, detectando e desta forma “diagnosticando” trabalhadores inaptos para a realização de determinadas tarefas, evitando assim acidentes de trabalho. Fazendo uma análise crítica podemos perceber os objetivos ocultos do próprio sistema capitalista: a seleção dos trabalhadores “capacitados” de forma rápida e prática.

Em 1907 teve seu marco inicial oficial, e a partir da visão de Parsons, que passa a ligar a Orientação Vocacional Profissional à psicologia e a educação. Nas décadas de 20 e 30, a Orientação Vocacional Profissional passa a ser um processo fortemente diretivo com o objetivo de fazer diagnósticos e prognósticos do orientando.

A Revolução Industrial trás novas expectativas para o mundo do trabalho, exigindo um ajustamento do homem as essas novas exigências, visando à eficiência industrial. E em 1940, Rogers trás uma abordagem não diretiva e centralizada no cliente, valorizando a participação deste no processo de intervenção. Durante a década de 50 e 60 foram produzidas e publicadas diversas teorias sobre a escolha profissional.

No Brasil, a Orientação Profissional teve origem em 1924, com a criação do Serviço de Seleção e Orientação Profissional para os alunos do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Esta percepção brasileira nasceu ligada à Psicologia Aplicada, que vinha desenvolvendo-se no país, na década de 1920, junto à Medicina, à Educação e à Organização do Trabalho. Nas décadas de 1930 e 1940, a Orientação Profissional ligou-se a educação. No ano de 1944, foi criada a Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, que estudava a Organização Racional do Trabalho e a influência da Psicologia sobre a mesma (Freitas, 1973; Instituto Superior de Estudos e Pesquisas: ISOP, 1990). Em 1945 e 1946, ofereceu com o auxílio do governo brasileiro, o curso de Seleção, Orientação e Readaptação Profissional, ministrado pelo psicólogo e psiquiatra espanhol Emílio Mira López (Freitas, 1973; Rosas, 2000). O objetivo de tal curso foi à formação de técnicos brasileiros nestas áreas de atuação.

O Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), junto a Fundação Getúlio Vargas na cidade do Rio de Janeiro, foi fundado em 1947, reunindo técnicos e estudiosos da Psicologia Aplicada, muito deles formados pelos cursos de Mira y López. Entre as décadas de 1940 e 1960, o ISOP foi referência não só para os modelos de Seleção e Orientação Profissional, mas também para o desenvolvimento da Psicologia brasileira, principalmente da Psicometria.
Desde o surgimento da Orientação Profissional brasileira, na década de 1920, podemos perceber o modelo da Teoria do Traço e Fator vigorando por muitas décadas. Na década de 1960, as mudanças ocorridas e as críticas a esta teoria começaram a vigorar no Brasil, mas no âmbito internacional já estava presente desde a década de 1940 (Scheeffer, 1996).

Na década de 70 os serviços de Orientação Educacional (SOE) tornaram-se obrigatório nas escolas. Na década de 80, alguns autores começaram no âmbito educacional (da educação) teorizar os processos de escolha de Orientação Profissional, destacando-se Celso Ferretti e Selma Pimenta. Em 1993, é fundando a Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (ABOP) com o objetivo de unificar o desenvolvimento da Orientação Profissional no Brasil.

A mudança de paradigma da Orientação Profissional brasileira seguiu um caminho diverso e se baseou em referenciais teóricos próprios, como a Estratégia Clínica de Bohoslavsky e o processo de investigação grupal de Carvalho deram a origem do modelo brasileiro de Orientação Profissional utilizado até os dias de hoje.

A Estratégia Clinica de Orientação Profissional foi desenvolvido por Bohoslavsky, psicólogo argentino, como alternativa ao modelo da Teoria do Traço e Fator, considerado por ele uma “Estratégia Estatística”. Ela foi influenciada pela idéia de não-diretividade da Terapia Centrada no Cliente de Rogers, pela Psicanálise da Escola Inglesa, especialmente por Melanie Klein e pela Psicologia do Ergo norte-americana. Esta concepção utiliza entrevistas e testes. Bohoslavsky aceita a utilização de testes para a realização de diagnóstico, porém somente se for de caráter instrumental.

Outros modelos de Orientação Profissional foram desenvolvidas no Brasil como o da Maria Célia Lassance na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com base na Teoria de Desenvolvimento Vocacional de Donald Super. Ambas abordagens possuem um caráter psicopedagógico e tem por objetivo central a aprendizagem da escolha. Em 1994, Kátia Neiva, construiu a primeira versão de uma escola brasileira para a mensuração da maturidade vocacional, a Escala de Maturidade para Escolha Profissional (EMEP), porém esta foi publicada comercialmente no ano de 1999 pela Vetor Editora.

A promulgação da Lei Capanema, em 1942, incluiu nas escolas a Orientação Educacional com a tarefa de auxiliar a escolha profissional dos alunos, porém com a Lei 5.692 de 11 de agosto de 1971, que determinou a profissionalização no segundo grau obrigatória, a sondagem de aptidões começou a ser focalizada através dos Serviços de Orientação Educacional (SOE). De acordo com Ferreti (1980), no final de 1970, era prevista uma disciplina chamada Programa de Orientação Ocupacional, cujo objetivo era auxiliar os alunos na escolha profissional. Porém Ferreti questiona esta prática considerando um programa que se baseava apenas na informação profissional.
Nesta perspectiva Ferretti aponta a função ideológica de manutenção da sociedade de classes capitalista subjacente às teorias psicológicas da escolha profissional e propôs um novo modelo de Orientação Profissional refletindo sobre o próprio conceito de escolha profissional e sobre o trabalho. Atualmente Silvio Bock (2002), com base nas críticas realizadas por Ferreti e Pimenta, propôs a Abordagem Sócio-Histórica de Orientação Profissional, onde o individuo desenvolve-se através de uma relação dialética com o ambiente sócio cultural em que vive.
Segundo Uvaldo e Silva (2001), a Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, oferece mais abertura para a criação de projetos de Orientação Profissional integrados ao currículo escolar, pois esta lei não substitui o ensino médio regular pelo profissionalizante, porém garante ainda no ensino médio a preparação básica para o trabalho. Assim, a Orientação Profissional pode agir com mais eficiência preparando programas de Educação de Carreira de cunho pedagógico a fim de capacitar os estudantes para a transição entre escola e o mundo do trabalho.

Com isso, a Orientação Profissional deve visar à apropriação pelo orientando dos chamados determinantes da escolha, que levam à compreensão das decisões a serem tomadas e possibilitam a elaboração de projetos. É sob essa base que o jovem compreende como as escolhas são construídas na vida das pessoas como também a importância de como um Programa de Orientação Profissional de base sócio-histórica participa desse processo.

Com essas mudanças históricas e com o decorrer do tempo, tanto no âmbito internacional quanto no nacional (Brasil), o foco da Orientação Profissional transferi-se da produção para industria para o sujeito de escolha, sendo a eficiência e a produtividade tomadas como conseqüências naturais de uma escolha adequada, centrada na satisfação e nos sentimentos de realização do indivíduo.

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